quarta-feira, 11 de maio de 2016

O Sambaqui Assombrado

Vou te contar um causo que aconteceu lá pras bandas do Marujá... Já ouviu falar?
Senta aí, vê se não vai se assustá!

Aconteceu há muito tempo, nesse canal logo aqui na frente...
Eram dois pescadores pescando de canoa perto do sambaqui.


Era uma noite escura, sem lua.
A água tava bem paradinha e dava pra ouvir qualquer som a quilômetros de distância e eles começaram a ouvir saltos na água...


Logo pensaram que só podia ser tainhas e das grandes porque o barulho que elas faziam quando saltava era forte.

Aproximaram a canoa até chegar bem perto e o barulho só aumentava, era tainha pulando pra todo lado e, de repente, eles ouviram um baque dentro da canoa...


Felizes da vida acenderam o lampião pra ver o tamanho da tainha que pulou pra dentro da embarcação, só que quando a luz brilhou o coração deles gelou...

Dentro do barco não tinha peixe e sim um pedaço de osso de gente!


Foi aí que eles iluminaram o rio, em volta da canoa, e viram vários ossos saindo do sambaqui e sendo lançados na água...

Os dois pegaram os remos e voaram dali e, até hoje, ninguém mais se atreve a pescá por lá!



Pra quem não sabe Sambaqui é o nome dado aos sítios pré-históricos formados pela acumulação de conchas e moluscos marinhos, realizados por humanos,em que frequentemente se encontram ossos humanos e de animais, objetos de pedra, chifres e cerâmica.

Aparecem como pequenas elevações e são a prova da presença do homem primitivo na área litorânea composta pela restinga.


E quem me contou essa história foi o Sr. Arnoldo, morador e pescador tradicional do Núcleo Marujá na Ilha do Cardoso...

Vou ficar devendo a foto dele pois perdi meus arquivos. :/


quarta-feira, 22 de julho de 2015

O Bagre que Crescia...

Esta história foi diferente de qualquer outra que já ouvi e requer uma pequena introdução: O Sr. Osmar, que foi o contador, teimava em dizer que ele não conta história, que história de pescador é mentirosa e que ele nem pescador é!

Mas em quinze minutos de conversa me contou três histórias incríveis...


Uma delas é essa aqui:

Eu não entendo esses pescador que falam que pesca peixão e eu sei, todo mundo sabe, que é mentira.
Eu nunca peguei peixe grande, sempre pesquei peixe pequeno.

Só naquela vez que pesquei um bagre africano...


Eu tava pescando no Candapuí, foi quando senti uma fisgada forte e sofri pra tirar o bicho da água.  Quando consegui, precisei da ajuda de um amigo pra arrancar o danado do anzol.

Foi um bagrão de mais de quatro quilos. Aquele foi  dos grandes, até parei de pescar.

Fui pra casa mas, antes, resolvi parar no bar da esquina (aquele risca-faca que fica perto de casa). Todo mundo se encantou com o peixe e ninguém acreditou que eu tinha pego um bagre africano no Candapuí, mas a prova tava lá pra todo mundo vê!


 Só de curiosidade parei na padaria e pedi pro rapaz pesar o peixão.
Quatro quilos e quatrocentos!

Pedi pra ele me dar uma etiqueta com o peso, mas ele disse que não podia.
Aí eu falei: "Então faz uma declaração desse peso que é pra ninguém duvidar!" (risos)

Bom, fui pra casa, coloquei o bagre num isopor grande que tenho lá, fechei a tampa e coloquei um bloco em cima. Fui dormir!

No outro dia...


Você vai achar que é mentira, mas não é não!

Sabe o que aconteceu?
Quando abri a tampa do isopor, cadê o peixe? Tinha desaparecido.  E a tampa ainda tava fechada, com o bloco em cima.

Agora é que você vai achar que é mentira mesmo: sabe onde ele tava?
Embaixo da roda do carro. Vivo e com a tampa do isopor fechada.

Eu fiquei me perguntando como que isso aconteceu e um amigo me disse que o bagre vai cutucando, cutucando e, nessa, ele deve ter conseguido erguer a tampa e escorregou pra fora da caixa.

Até parece mentira, eu sei... Mas não é!


Bom, mistério resolvido, eu decidi ir almoçar no Boqueirão lá no restaurante da Morena (é que às vezes eu não quero cozinhar e vou comer lá). Só que, antes, eu dei uma passada na Rosilda e, quando cheguei lá ela já veio falando, mas cê é rabudo mesmo heim?

Eu? Porque?
Porque não é todo dia que alguém pesca um bagre de nove quilos!

Nove quilos é? Foi isso que te falaram? (sorriso)

Como não tinha agrião lá, eu resolvi ir na Morena mesmo. Só que no caminho eu dei uma parada na peixaria e meu amigo veio falando:

Mas você é rabudo mesmo heim negão?
O que? Tá sabendo do bagre?
Oxe, tá todo mundo falando do bagre de doze quilos que você pescou.

Doze quilos é? Foi isso que falaram? (sorriso)

Saindo dali eu nem sabia o que pensar, veja só como são as coisas... Não fui eu que falei não, foi o povo!


Como era caminho, eu dei uma parada na Sônia. Na hora que ela me viu já veio toda rindo pro meu lado... Eu logo perguntei: "Tá sabendo?"

Ela disse que só o que queria entender era como eu tava pescando bagre africano de 16 quilos com anzol de dois centímetros no Candapuí?

Aí eu logo falei: " dezesseis quilos é? Acho que nem vou mais na Morena senão o bicho vai chegar em uma arroba!

Cê entendeu? As coisas são complicadas...

Bom, foi mais ou menos assim que ele me contou.
E se o bagre cresceu um pouquinho mais, isso faz parte. Assim são as histórias de pescador!


E quem me contou esta história foi o Sr. Osmar que diz que não é pescador e muito menos contador de história, mas mora há três anos aqui na Ilha e vive explorando e pescando nos rios da região.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Barco Afundado Versão do Pescador...

Foi numa noite de frente fria, dessas que vêm do sul.

O vento forte deixou o mar agitado e o piloto do barco, sem tempo para atravessar a barra, acabou atracando na Ilha. 

Foi ali no Adriana, bem perto da prefeitura.


Acontece que quando ele estava encostando na praia, tomou uma onda em cima da embarcação e acabou indo à pique (isso quer dizer que ele afundou)!


Como era um barco camaroeiro, o porão estava carregado de camarão branco.

Era muito camarão mesmo. Camarão que não acabava mais.

Eu comprei camarão deles... E eles venderam por um preço bem barato naquela época.

Fizeram isso pra não perder a carga.


Enquanto ajudava, acabei conhecendo o mestre e os marujos. Eles eram de Santa Catarina.

Trabalharam a noite toda pra tirar todo o camarão do porão.

E o mar não dava trégua...


O mar foi batendo, batendo e batendo na lateral da embarcação... E o barco foi afundando...

Não deu tempo de tirar ele de lá. 
Tentaram de várias formas: trator, guincho... Mas nada deu certo!


Só tiveram tempo de tirar o motor e o resto ficou à mercê do mar.

E até hoje ele tá lá.
Afundou tanto que só aparece uma parte dele pra fora da areia... E esta história pra contar!


Foi assim que aconteceu... 

Tem dúvida???

É verdade, eu tava lá!!!


E quem viu e contou a história do Barco Afundado do Adriana, foi meu amigo Salé, pescador e morador de Iguape.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O monstro do Ridiuna...


Quando eu era, ainda, um molecote cortei palmito por um bom tempo. Eu e meu primo 'passava' semanas no mato...

O lugar onde nós 'cortava' era bem longe de Iguape, umas oito horas de barco sentido Rio Una, ou Ridiuna que era como todos nós 'conhecia'.


Lá, nós 'ficava' acampado em um pequeno barraco. Desse barraco até o lugar de 'cortá' palmito dava umas duas horas de remo em uma canoa.

Todo dia nós 'passava' pelo mesmo lugar. Até então eu não sabia de nada...


Até que um belo dia vi quatro cruzes, uma do lado da outra, no barranco, no meio do nada. Então perguntei pro meu primo o que tinha acontecido ali naquele lugar.

Ele me perguntou: "Quer saber mesmo?"

E eu respondi: "Claro que sim!"


Foi aí que ele me contou que naquele lugar passou um barco de alumínio, era de turista, e eles 'tava'  pescando ali por perto. Tinha cinco tripulantes no barco e, de repente, o barco bateu em alguma coisa no meio do rio.

Acontece que naquele lugar não tinha nada pro barco bater. Nem banco de areia tinha!


Quando os tripulantes foram ver o que tinha acontecido pro barco parar apareceu algo muito assombroso 'praqueles' coitados...

A coisa apareceu de repente, muito rápido!

Era um bicho... Um monstro!


Quando o monstro atacou o barco, um dos tripulantes conseguiu fugir e se salvar. Ele disse que o que tinha atacado eles era nada mais, nada menos que um jacaré enorme ou crocodilo ou urura, como 'dizia' os antigos.

Ele não sabia direito que bicho que era, mas era grande mesmo... Enorme!


Depois disso procuraram e procuraram, mas não acharam nenhum corpo que fosse, o bicho comeu todos eles...

Mas, também, não encontraram o bicho... Rápido ele veio e rápido ele se foi.

E em lembrança aos mortos foi colocada aqueles cruzes lá no barranco. Em respeito aos falecidos.


Quando eu percebi nós 'estava' bem em cima do lugar do acontecido... Vixi eu gelei na hora.

Mas meu primo era muito experiente com estes 'assunto' de mato. Isso me deu um alívio!

Continuamos a passar por ali por muito tempo e graças a Deus nunca vi nada. Mas toda vez eu me lembrava da história e do danado do bicho comedor de gente...


E essa história é verdade 'verdadera', tanto que minha mãe que tem oitenta anos, disse que aquele bicho gigante morava ali mesmo, ela ouviu várias histórias de gente que cruzou com o bicho que assombrava as águas doces do Ridiuna.


Quem me contou esta história foi o Rogério, antigo pescador de Iguape.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O segredo da dona Maria

Esta história aconteceu há uns tempo atrais...

Minha vizinha dona Maria, que não era pescadora nem nada, todo dia vortava do rio com cinco ou seis piaba.

Era todo dia, todo dia...

Ela ia pro rio depois do armoço e vortava cas mão cheia de piaba.


Eu não conseguia entendê como ela tinha tanta sorte.

Porque todo finarzinho de tarde eu ia pescá co meu fio e nós não trazia nada!


E no outro dia era a mesma coisa... Lá ia a dona Maria pru rio e vortava cas piaba pra casa.

Aquela sorte dela já tava me dano raiva!

Porque, todo dia, eu co meu fio ia no finarzinho da tarde e vortava cas mão abanando...


E eu que num sô home de dexá as coisa passá, resorvi descobri que segredo era esse!

Então um dia eu segui a dona Maria.
Ela terminava de armoçá e ia pro rio lavá loça e, enquanto lavava a loça ela jogava o anzol...

E pegava um atrais do outro!


Como eu só tinha espiado de longe, num deu pra descobri o segredo. 
Mas eu vi que era verdade, era ela mesma que pescava as danada das piaba.


No outro dia eu resorvi fazê diferente: na hora qui ela foi lavá as loça eu fui cum ela.

E foi aí que eu peguei a malícia!


Na verdade, quando ela lavava a loça ela jogava os resto de arroiz no rio, aí as piaba que não são boba nem nada, se reunia tudo por ali!


E aí ficava fácil!

Ela jogava o anzol no meio das piaba toda e, por isso, pescava uma atrais da outra...


Ah a dona Maria...

Aquela é que era pescadora esperta!

Deu nó em tudo nóis... hehehehehe


E quem me contou esta história foi o Sr. José, pescador e caiçara aqui na Ilha

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Monstro no Cerco

Ser pescador também tem seus perigos!

É verdade. Tem que estar sempre atento senão...


Eu já vi de tudo que você pode imaginar dentro de um cerco.

Já vi cobra d´água, lontra, peixinho e peixão. 
Mas a coisa mais perigosa que eu já achei dentro do cerco foi um jacaré!


É verdade!

Foi assim que aconteceu...

Saí de manhãzinha pra passar a rede e ver o que tinha dentro do cerco. Tava lá distraído, pensando na vida quando senti um peso na rede e alguma coisa se agitando pra valer.


Pensei que fosse uma tainha bem grandona, daquelas que salva o mês da gente. 
Como o bicho tava agitado, pulei lá dentro pra pegar a danada com as próprias mãos...


Foi aí que tomei um susto daqueles!

Não tinha tainha nenhuma... Era um baita dum jacaré que tava lá dentro.
O bicho devia ter um metro e meio de comprimento.

Mas não amarelei não!


Passei os braços por baixo do jacaré e joguei o danado pra fora do cerco!

Ele voou lá pra fora que nem viu o que acertou ele... Saiu nadando rápido e sumiu dali.

Esse nunca mais volta.


E há quem diga que não tem jacaré por estas bandas. Tem de monte!

Cê tá dando risada?
É verdade!

Pode perguntar pro meu pai... Ele viu tudo.

Nékié pai?


Quem me contou isso foi o Alex, pescador e contador de histórias lá de Iguape

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O mistério no telhado

Esta história aconteceu em Iguape e o pescador que me contou jura que é verdade verdadeira!


A caminho da Toca do Bugio, em Iguape, tem uma chácara que se chama Jejava.
Ali, como em todo lugar, mora um casal de caseiros.

E é a própria caseira quem conta, tim-tim por tim-tim um causo muito sinistro que aconteceu por lá...


Ela conta que, em uma certa época do ano, no mesmo mês, na mesma lua, passava alguma coisa por cima da casa dela.

Ninguém sabia o que era, ninguém nunca tinha visto nada, só se ouvia o arrastar no telhado!


Com o passar do tempo além do barulho, passaram a sentir um cheiro muito forte de peixe!
E toda vez era a mesma coisa, barulho no telhado e cheiro de peixe logo depois que a coisa passava...


Foi, então, que resolveram ficar de tocaia para ver o que era aquilo.
E na determinada época, na lua certa, do mês certo eles esperaram...

Se esconderam perto da casa e, em silêncio, observaram e o que eles viram foi assustador............................................................


Saiu de dentro do mato, no pé-do-morro, se arrastando sentindo o rio.
Quando a caseira viu aquilo se arrepiou e até fez o sinal da cruz!

Era uma cobra imensa... Saia do mato e se arrastava, lentamente, por cima da casa.


Apesar de assustadora, ela jamais atacou alguém.

Eles descobriram que aquela era a rota de caça da cobra, que já o usava muito antes da casa ser construída ali.

Alguns dias depois, lá voltava a cobra.
Voltava da caça, pelo mesmo caminho sentido morro acima, de volta para casa...


E era bonita de se ver...
Uma cobra velha, uma cobra enorme, uma cobra que cheirava à peixe!

Por muito tempo eles a viram por lá. 
Sempre na mesma época, no mesmo mês, na mesma lua.


Até que parou...

Não se sabe se mudou de rota ou se morreu, mas por muito tempo passou por cima daquela casa...



Quem me contou esta história foi o Rogério, antigo pescador de Iguape.
Ele me disse que tem tanta história pra contar que está até pensando em escrever um livro!