quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O relógio

Eu não sei porque as pessoas duvidam das histórias de pescador...


Veja bem, se eu contar ninguém acredita, mas aconteceu com meu pai!

Ele foi pescar e, lá na beira do rio, tirou o relógio e pendurou no galho de uma árvore que ficava ali perto...


Terminou a pescaria no finalzinho da tarde e foi embora.
Só em casa, no outro dia, foi que se lembrou que esqueceu o relógio na árvore, mas já era tarde. Ele estava em casa, há quilômetros de distância do rio...


Foi só depois de vinte anos que meu pai voltou a pescar lá.
Estava tranquilo, concentrado na sua pescaria, quando começou a ouvir: tic-tac, tic-tac, tic-tac...


Procurou, procurou e encontrou...
Lá no alto da árvore, pendurado em um galho, o relógio que havia esquecido lá há vinte anos.


É verdade!
Foi meu pai que me contou...


E quem me contou esta história foi o Alex, que é filho do Seu Adelino. 

O Alex mora em Iguape e vive da pesca até hoje, diz que o Mar Pequeno já não é farto como antes, mas é o que ele sabe fazer!




domingo, 24 de agosto de 2014

O guardião

Ao voltar de uma pescaria em Cananéia, há uns 15 anos atrás, eu e meu irmão resolvemos jogar a rede pra ver se conseguíamos mais alguns peixes.


Isso foi ali perto do Saco-Largo, que fica perto de Pedrinhas. 
Bem, ao puxar a rede vimos que não tinha nada então resolvemos encostar em um barranco próximo à uma casa antiga.
Ali aproveitamos pra arrumar a rede e pegar água.


Enquanto a gente arrumava a rede, vimos um senhor, bem velhinho, se aproximando.
Ele perguntou: "Porque voceis tão aqui?"
Nós respondemos que só estávamos arrumando a rede e pegando água pra seguir viagem pra Iguape.
Rindo, o senhor disse: "Hoje o vento não tá bom pra pesca! Vento sul-oeste deixa a água muito clara".


Então todos demos risadas e ele foi se afastando pelo barranco. Em questão de minutos, sem que a gente percebesse, ele sumiu...
Desapareceu, foi embora como o vento que soprava naquele dia.

Eu e meu irmão nos olhamos, pegamos o galão de água e seguimos na direção da casa onde ele nos disse que morava. Ela ficava bem próxima, no barranco.

Quando chegamos na casa, vimos que ali, não deveria morar ninguém. A casa estava abandonada, com muito mato alto ao redor como se não aparecesse ninguém por ali há muitos anos.

Não entendemos nada, mas era hora de voltar para a embarcação e fomos embora.


Já na embarcação, seguimos por uns 700 metros, até onde encontramos uma casa pra poder pegar água.

Lá conversamos com o dono da casa, contamos mais ou menos o que tinha acontecido e ele riu dizendo que ali não morava ninguém e que o dono já tinha morrido há uns 30 anos.

Eu e meu irmão nos olhamos sem entender e eu resolvi perguntar como era o dono da casa, aquele que já tinha morrido.


Ele me contou que o dono foi um velhinho muito amável, de olhos muito azuis e longos cabelos brancos.
Olhei pra cara do meu irmão e dei uma risada.

O dono da casa, sem entender nada, me perguntou porque da risada. Achei melhor nem falar nada porque o velhinho que ele me descreveu foi o mesmo que vimos e conversamos...
E quem iria acreditar não é mesmo?

Depois dessa, nos despedimos e seguimos viagem para Iguape. 

E, até hoje, eu acho que aquele velhinho fica por ali cuidando da sua humilde casa, mesmo depois de morto!


Quem me contou esta história foi o Rogério Gomes.
Hoje ele não vive mais da pesca, mas me disse que tem história pra me contar até envelhecermos...






quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O Valo Grande

Foi há muito tempo que isso aconteceu...


Antes, aqui no Mar Pequeno você pescava de um tudo. Até cavalo-marinho tinha!
Tinha peixe de tudo quanto é espécie e tamanho e era fartura naquele tempo. 
Até cultivo de ostra nós tínhamos!


Mas aí alguém teve a ideia de abrir uma fenda no Rio Ribeira pra ficar mais fácil transportar o arroz. 

É que, antes, eles tinham que dar uma volta enorme pra trazer este arroz para Iguape e com este rego aberto as coisas ficaram muito mais rápidas. 
Só cabia uma canoa pelo buraco, passava certinho, mas já era o suficiente.


Só que ninguém contava com a força do rio. A correnteza foi abrindo aquele rego, arrastando tudo e misturando as águas.

O Mar foi virando rio, as águas foram ficando sujas, barrenta, cheia de aguapé.


Os peixes foram sumindo e os pescadores sofrendo cada vez mais.
Muitas vezes levanto cedinho, estico a rede, recolho e nada... Não vem nada!


É nisso que dá brincar com a natureza, ou eles acharam que não ia acontecer nada?
E a culpa é toda do 'mardito' arroz. É por causa dele que abriram esta ferida aqui: Valo Grande...

Grande mesmo é o sofrimento do pescador...

É verdade, foi assim que aconteceu!


Esta história quem me contou foi o Seu Adelino (este aí da direita), pai do Alex.

Hoje ele é aposentado, não vive mais da pesca, por isso estampa este sorrisão e vive a vida mais tranquilo mas sonha com o fechamento da barragem e a volta da fartura no Mar Pequeno.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Fama de pescador

Os pescadores possuem uma fama pra lá de infame, sempre com histórias "espetaculosas" e de imaginação inimagináveis.


Eles contam suas aventuras como se ostentassem troféus heroicamente conquistados. O problema é que quem ouve a história do pescador ou assiste às narrativas, geralmente contadas com muita empolgação - passa a criar e assistir todo o episódio em sua imaginação. 


Normalmente o 'expectador' não acredita nas histórias e chama o pescador de mentiroso. Isso acaba se tornando uma injustiça com os pescadores, pois ninguém estava lá para afirmar se é mentira ou verdade.


Se as histórias contadas aqui são verdadeiras?
Mais ou menos.
Afinal, é preciso ser um pouquinho mentiroso para contar uma história direito. O excesso de verdade confunde os fatos. O excesso de certeza nos faz soar insinceros...